sexta-feira, 17 de setembro de 2010

DR DRAUZIO VARELLA NO FANTÁSTICO (parte II)

Sujando a imagem da pesquisa brasileira

Nas duas últimas décadas, o Brasil tem se esforçado para desenvolver pesquisas
farmacêuticas na área de fitoterápicos, à revelia de qualquer apoio público de
pesquisa científica. Não se pode esquecer que países europeus, como a Alemanha,
saíram na frente com medicamentos nascidos de plantinhas de nossas florestas.
Por lá, parece mais fácil entender que manter acesas linhas de pesquisas em
fármacos e medicamentos faz parte de um plano de soberania. Por aqui, vivemos de
pastos e manadas, apenas.

Houve um momento recente na História do país que os órgãos envolvidos em
subvencionar, aprovar e patentear o resultado das pesquisas brasileiras em
fármacos e medicamentos fitoterápicos, simplesmente, faziam-se de esquecidos e
desinteressados, rigorosos a ponto de nem mesmo aceitar estudos realizados por
universidades federais. Isso um dia tem de ser contado de forma mais
transparente, citando os impedidores e seus chefes como desarticuladores da
indústria farmacêutica nacional, por um lado, desorganizadores da pesquisa nas
universidades e fundações a partir de plantas de nossas florestas, por outro
lado. E, enfim, como inibidores da soberania nacional em área que não deveríamos
descuidar nem por um segundo.

Fazer o quê, se as vozes escutadas são sempre a de falsos profetas e doutos
generalistas que, uma vez na mídia, ocupam-se do lugar de autoridade e aí, adeus
anos, décadas de esforços, ações, pesquisas. Suja a imagem da pesquisa nacional
e se refestela ao chamar todos de conspiradores. De forma clara, refiro-me aos
comentários impertinentes e desavisados que o médico oncologista Drauzio Varella
- autor e apresentador de sucesso, por seus livros, artigos na imprensa e
participações no programa dominical Fantástico – costuma fazer sobre
medicamentos fitoterápicos.

Estou certo que para levar a cabo seus comentários, deveria consultar alguns
colegas que há muito tempo somam esforços para fazer valer a importância do que
há em nossas matas e o resultado científico disso como fármacos e medicamentos.
Ao consultar alguns deles, percebi que o médico Drauzio Varella tira conclusões
próprias e apressadas. Ou, muito provavelmente, faz consultas a pessoas que
jamais tiveram sensibilidade com as pesquisas brasileiras com fitoterápicos.

O resultado pode-se ver, também, na série É bom para quê?, que estréia neste
domingo, dia 29, no Fantástico, que a Rede Globo exibe às 20h50, e que terá
quatro episódios, e na entrevista ao site da revista Época, na coluna da
jornalista Cristiane Segatto, publicada no dia 13 de agosto, acentuada de que
fez “ampla investigação sobre ervas e fitoterápicos”, “levantou evidências
científicas relacionadas às ervas mais usadas no Brasil” e mergulhou “no mundo
obscuro dos fitoterápicos”. Ao final de sua série e de sua entrevista, qualquer
um pode se perguntar a quem ele se prestou defender com vastas observações
aleatórias e imprecisas. Todavia, concluiu que “os brasileiros estão sendo
enganados”. Vamos, então, viajar em algumas destas surpreendentes afirmações do
médico Drauzio Varella.

O médico diz que o Ministério da Saúde criou uma medicina para pobres ao incluir
oito medicamentos fitoterápicos em sua cesta de distribuição pelo SUS. “ (...)
plantas que não têm atividade demonstrada cientificamente. Quando dizem que
determinada planta tem atividade isso significa que em tubo de ensaio ela
demonstrou ter determinada ação. Mas isso não basta. Para ter ação comprovada em
seres humanos, falta muita coisa”, disse Drauzio Varella. E fataliza que quer
mostrar que os fitoterápicos “têm de ser estudados. Têm de ser submetidos ao
mesmo escrutínio ao qual medicamentos comuns são submetidos. Essas coisas são
jogadas para o público sem passar por estudo nenhum”.

Ele se refere a: 1) Aroeira (Schinus terebinthifoliusRaddi), 2) Alcachofra
(Cynara scolymus L.), 3) Cáscara sagrada (Rhamnus purshiana D.C.), 4) Garra do
diabo (Harpagophytum procumbensD.C.), 5) Guaco (Mikania glomerata Spreng.), 6)
Soja (Glycine Max), 7) Unha de gato (Ficus pumila), 8) Espinheira-santa
(Maytenus ilicifolia). Para facilitar a vida de Dr. Varella, cito os estudos
relativos ao “Uso da Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) para Tratamento de
Infecções Vaginais” e “Tratamento da vaginose bacteriana com gel vaginal de
aroeira Schinus terebinthifolius Raddi KRONEL” (Luiz Carlos Santos e Melania
Maria Amorim, do Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP) / Centro de
Atenção à Mulher (CAM), referências no Brasil).

O médico Dráuzio Varella não sabe o que diz. Não sabe mesmo. Como se diz por aí,
não sabe da missa um terço. Não sabe os rigores da ANVISA, bem mais rigorosa na
aprovação de medicamentos que sua coirmã europeia e a americana. Se soubesse
disso, saberia que há registros de fitomedicamentos similares aos nossos na
Europa e Estados Unidos, enquanto nós, brasileiros, não conseguimos esses
registro no país, tampouco patenteá-los.

O argumento de que os fitomedicamentos não têm validade por estarem na ANVISA
registrados como alimentos é uma falácia, para não dizer ignorância do processo
histórico das pesquisas com fitoterápicos no Brasil e a luta travada com os
órgãos de registro. Para dar algum conhecimento a quem precisa de algum, a
maioria dos estudos brasileiros com fitoterápicos, cumprindo todos os requisitos
internacionais de pesquisa clínica, são colocados em um fila interminável de
espera e exigências. Resta aos laboratórios, em parceria com centros de
pesquisas, recorrerem à intermediação da justiça para fazerem o medicamento
incluir-se em algum lugar de validade.

O Dr.Varella diz: “se eu tivesse autoridade [para proibir os fitoterápicos],
mandaria recolher do mercado todos os fitoterápicos cuja eficácia não tenha sido
demonstrada cientificamente”. E adverte que, pensando assim, alguém dirá que ele
fala em nome dos grandes laboratórios. Sugere que - fora ele que imagina um
complô fitomedicaperigoso contra a saúde pública - quem pensar que ele pensa
assim faz parte de uma teoria da conspiração.

Não acho. Acho que Dr. Varella não sabe nada das pesquisas brasileiras sobre
fitoterápicos e é uma lástima que chegue a ele tanto dinheiro para maldizer os
esforços brasileiros de pesquisa, confundindo – valha-me, Deus! - medicamentos
com chazinhos. Seu desejo autoritário, contudo, para seu conhecimento, sempre se
manteve no país e, provavelmente, para seu conhecimento, é um dos fatores mais
atuantes para o entrave das pesquisas nacionais no aproveitamento das nossas
riquezas naturais.

São os “doutores” Varella brasileiros, que pensam - por ignorarem coisas como
Boas Práticas de Fabricação e Programas de Bioequivalência, em uso no país - que
não ajudam o Brasil a ter condições de produzir e patentear medicamentos a
partir de seu potencial. É o mesmo tipo que diz que tiraria do mercado esse ou
aquele medicamento, provavelmente, porque foi ao lugar errado para saber das
pesquisas com fitomedicamentos no país. Felizmente, o poder deles é bem
limitado. Felizmente e para nossa segurança.

O Dr. Varela está sendo no mínimo deseducado, além de mal informado, com uma
gama quase inumerável de mestres, doutores e pós-doutores nas áreas de química
de produtos naturais, farmacêuticos, químicos, médicos; de industriais sérios,
de centros de pesquisas sérios que há anos estão querendo trazer o Brasil para o
andar de cima.

Mas existe gente como o Dr. Varela querendo puxar o Brasil para o andar de
baixo.

Chega Dr. Varela, acorde, o Brasil mudou, o senhor também deve mudar com os que
querem ver o Brasil no andar de cima.
Quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Josimar Henrique é Presidente da Hebron Farmacêutica
- www.hebron.com.br e Diretor Temático de Assuntos Parlamentares da Associação
Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades -
ABIFINA - www.abifina.org.br.
E-mail: presidencia@hebron.com.br

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